quarta-feira, 23 de julho de 2008

Um povo de banana ou uno pueblo de mierda

Povo de banana ou “Uno pueblo de mierda”
Ontem, 23/07/08, enquanto me encaminhava para o trabalho, ouvia, como sempre o faço quando posso, o misto de jornalista-apresentador-humorista, Ricardo Boechat, a quem admiro muito e sou um fã. Sempre “roubo” muitos de seus comentários e os uso em minhas aulas – sou professor de História nas escolas das redes pública e privada do Estado do Rio de Janeiro – e por isso trabalho muito com atualidades.
E foi nesse dia que ouvi a seguinte expressão: “O povo brasileiro é um povo de banana”. Refleti alguns segundos sobre o que acabara de ouvir e cheguei a seguinte conclusão: o Boechat cometeu uma grande ofensa, mas não ao povo brasileiro, mas sim à banana. Como todos sabem, a banana é “rica em potássio”, fundamental para o desenvolvimento dos ossos – e olha que não sou professor de Biologia – e, portanto, chamá-la de “povo brasileiro” é colocá-la numa situação deprimente. Afinal de contas, ela larga a família para ver o jogo de futebol? Ela vende seu voto em troca de “surrasco de largato” ou por “uns dez real? Ela aceita passivamente um monte de políticos ladrões cantando músicas que só falam de grandes feitos, e que quando se elegem somem? Ela larga tudo por um baile funk ou por uma micareta? Ela gosta de carnaval, de praia e cerveja e se esquece da saúde, da educação e da má distribuição de renda? Ela aceita passivamente que a política de segurança seja voltada para “enfrentar vagabundo” e não evitar que “vagabundo” nasça?
Então chegamos a conclusão que o Boechat ofendeu à banana. Por que ao invés de chamar esse povo, do qual faço parte, de banana, o Boechat não o chamou de “mierda” (em espanhol é mais sofisticado). Se o fizesse estaria ofendendo à “mierda”, substância excretada por seres vivos e que, em muitos casos, serve de adubo para as plantações. Assim como no caso acima, será que “mierda” se cala quando o governo faz de tudo para trazer um banqueiro italiano ladrão para cumprir pena no Brasil (em Bangu 8, e eu nem sabia que depois de Bangu 1, 2 e 3, o número ia para o 8), como no caso do Cacciola, e permite que outro, brasileiro, ladrão tal qual o italiano, fique solto com as bênçãos do STF, como no caso do Daniel Dantas? Será que a “mierda” aceita passivamente um monte de impostos e uma caristia de vida insuportável para todos de forma calada? Será que se o time de futebol da “mierda” estiver ameaçado de cair para a Segunda Divisão ela vai querer matar todo mundo, mas se esquece de coisas mais importantes?
Então, também não podemos chamar o povo brasileiro de “uno pueblo de mierda”. O grande historiador, Sérgio Buarque de Hollanda, em seu clássico “Raízes do Brasil”, propõe uma série de explicações para a formação genealógica do Brasil, e consegue algumas explicações bem plausíveis, que vão desde nossa colonização (?) predatória praticada pelos portugueses, passando pela nossa formação étnica (onde portugueses, índios e africanos sempre foram muito voltados para as aventuras, festas e fanfarras), chegando a própria condição de oprimido pela escravidão, império, repúblicas e ditaduras, onde sempre prevaleceu a confusão entre o público e o privado, ou pior, onde o primeiro tornava-se o segundo nas mãos sempre sujas de nossas elites.
Então, o nós somos: “um povo de banana” ou “uno pueblo de mierda”? De forma bem simples, a melhor resposta seria, NÃO SEI. Acho que cabe a cada um de nós, brasileiro, escolher a melhor definição na qual está inserido e se colocar nela. Quanto a mim, bem eu me defino como um lutador que tenta acabar com essa perspectiva e fico triste quando ouço alguém falar isso, mas não posso fazer nada, até porque quem falou tem razão e se o fez, teve o interesse – espero que tenha sido isso – em mudar essas mentes (?) que povoam bananais ou vasos sanitários.

Nenhum comentário: